É pecado apostar na loteria?

Será que é pecado apostar na loteria? Algumas pessoas quando vêem uma fila na frente
de uma lotérica, com um certo puritanismo, viram o rosto e acham que aquilo é pecado. No entanto, nós católicos, sabemos pelo
nosso catecismo que as coisas não são bem assim. Pelo Catecismo da Igreja Católica, número
2413, nós sabemos que “as apostas em si, não são contrárias à justiça”. Essa resposta seria muito simples se não
tivéssemos uma série de nuances para analisar nessa realidade da loteria e das apostas. Então vamos esclarecer: pra gente entender
bem do que se trata, é preciso, em primeiro lugar, definir o que a loteria. A loteria é um jogo e, como todo jogo, é
um contrato, pode parecer estranho dizer que o jogo é um contrato, mas é assim, desde
um jogo de futebol até um jogo de cartas, trata-se de um contrato em que as pessoas
que participam do jogo contrataram que irão seguir determinadas regras e, seguindo essas
regras, haverá um ganhador, o ganhador poderá receber um prêmio que poderá ser somente
a honra de ter ganhado ou um prêmio também monetário, financeiro ou patrimonial. Bom, então, o que é que caracteriza a loteria
e diferencia a loteria dos outros jogos? A loteria consiste mais ou menos no seguinte,
é um contrato onde os participantes, mediante o pagamento irrisório porque, aqui é que
está a característica da loteria, ou seja, a aposta é um preço módico, irrisório,
a pessoa pagando aquela aposta está contratando o direito de concorrer a um prêmio que é
muito maior do que aquilo que ela está apostando, porque o característico da loteria é que
o número de pessoas é que faz o volume do prêmio. Nós poderíamos assimilar à loteria outras
coisas como uma rifa, bingo, tômbola, etc e o juízo moral será mais ou menos o mesmo. Pois bem, o que dizer, então, das loterias
em si? Bom, nós podemos analisar dois aspectos,
o aspecto é aquele que organiza e o aspecto daqueles que participam. Por parte de quem organiza, eu quero deixar
bem claro, logo no início, o seguinte: eu não estou aqui tratando da legislação civil
e penal brasileira e nem de qualquer outro país, eu estou simplesmente analisando as
coisas no ponto de vista da moral católica, portanto, se supõe que um bom católico irá
seguir as leis justas do seu país, mas aí as coisas mudam de país para país. O fato é que, moralmente falando, as pessoas
que organizam uma loteria têm duas coisas para observar se querem que aquilo seja algo
moralmente lícito, aceitável, primeiro, que não haja fraudes, porque, é evidente,
se você está fraudando o resultado, você está enganado aquelas pessoas que contrataram
a loteria; e o segundo ponto: que não haja uma recompensa muito grande para quem organiza,
deixa eu esclarecer esse ponto, veja, a loteria não pode ser uma forma fácil de enriquecimento
para os organizadores, por quê? Porque isso seria se aproveitar da boa vontade
das pessoas ou da vontade das pessoas de ganharem um prêmio. Só é possível que a loteria seja uma fonte
de rendimento grande, no caso dela ser destinada à caridade ou no caso de organizada pelo
governo ser uma espécie de imposto voluntário, em que as pessoas dão dinheiro ao governo
sabendo que aquilo será destinado a alguma obra social, com finalidade já estipulada
pelo governo. Observando essas duas coisas, organizar uma
loteria é moralmente lícito. Recordo mais uma vez, eu não estou dizendo
que nós possamos fazer isso nos devidos países que dependem da legislação civil local. É por isso que, mesmo que fosse possível
que as legislações locais aceitassem um jogo como o jogo do bicho, o jogo do bicho
mesmo assim seria imoral, por quê? Porque trata-se de um enriquecimento ilícito
para as pessoas que organizam. Bom, por parte dos apostadores o que é que
nós devemos dizer para que seja lícito apostar na loteria? Bom, o Catecismo esclarece que “as apostas
tornam-se moralmente inaceitáveis quando privam as pessoas daquilo que é necessário
para suprir suas necessidades”, ou seja, trata-se de dilapidação do patrimônio familiar. Aí geralmente é o caso dos jogos de azar,
em que as pessoas apostam altíssimas somas. No caso das loterias isso é mais raro, a
não ser que a pessoa aposte uma quantidade enorme de chances para ganhar na loteria. Outro problema sério que pode ocorrer da
loteria é a questão de uma espécie de dependência, um vício, uma grave dependência de pessoas
que apostam e vão nessa direção. Se você exclui essas duas coisas, primeiro
que você esteja dilapidando o patrimônio de sua família e em segundo lugar que esteja
na dependência daquilo e já se tornou um vício, é moralmente lícito e aceitável
apostar na loteria. Mas, as coisas não param por aí, por quê? Porque a pergunta que nós podemos fazer ulteriormente
é não somente se é moralmente aceitável, mas se é aconselhável espiritualmente apostar
em loterias. Existe uma realidade que a gente precisa refletir
que é o seguinte: quando as pessoas apostam na loteria, existe uma atitude espiritual
que nem sempre é muito sadia, pode ser que não seja pecado, mas você que busca a santidade
tem que se perguntar se você deveria realmente estar fazendo aquilo. Número um porque a loteria alimenta a ambição
pelas riquezas e a ambição é sempre um problema, principalmente as pessoas pobres
ficam sonhando com a possibilidade de se tornar do dia para a noite ricos facilmente; segundo
ponto que pode ser alimentado pelas loterias é a questão de que a pessoa diminui o seu
amor pelo trabalho, ela fica pensando na riqueza que não é adquirida pelo seu árduo trabalho,
mas que é adquirida pela sorte, magicamente; e um terceiro ponto que deve-se olhar é que
muitas pessoas, jogando na loteria, alimentam a sua vida ociosa, na esperança de que, “bom,
o dinheiro virá, então eu não preciso trabalhar”. Olhando essas características, nós vemos
então que não se trata somente de dizer se a loteria é ou não é pecado, geralmente,
apostar na loteria não é pecado. Não quer dizer que não devamos nos precaver
espiritualmente para não cair nas armadilhas que nos afastam daquilo que é o ato honesto
e cristão com as riquezas, nós cristãos, gostamos de nos santificar pelo trabalho,
a vida ociosa, a vida fácil, nem sempre é um caminho de ganhar o reino dos céus, por
isso, a gente recorda aquela bem-aventurança de Jesus: “Bem-aventurados os pobres em espírito
porque deles é o reino dos céus”.